quinta-feira, 29 de outubro de 2009

MAIS SOBRE A FLIMT

Participar da Feira do Livro Indígena de Mato Grosso (FLIMT) em 2009 foi muito significativo. Faço votos para que o evento aconteça novamente em 2010. Compartilhamos momentos de muita emoção, troca, entusiamo, amizade e idéias. A repercussão foi grande. Deu matéria até no Pune Mirror, lá na Índia! A Literatura Indígena, a despeito das convenções culturais asfixiantes, precisa ser compreendida de uma forma mais ampla. Narrativas cifradas insinuam-se no som dos maracás, na fala hipnótica dos pajés, nas pinturas corporais, na lógica dos adornos plumários, na fumaça ascendente do caximbo e nas interpretações teatrais ao pé da fogueira. Tudo isso é literatura indígena. O território da narrativa nativa é de outra natureza.

Tridimensional, performática, cênica, mágica, atemporal e envolvente. Para que toda essa riqueza possa migrar da tradição original para a bidimensionalidade do papel, seja no texto ou na representação gráfica, será sempre necessário que cada autor saiba manejar com certa destreza os recursos das duas tradições. O benefício será de todo e qualquer leitor ouvinte de espírito aberto.

A literatura indígena pode revelar a lógica da circularidade das suas idéias, ações, histórias e princípios. Suas narrativas, recontadas geração após geração, confirmam suas identidades e os sentidos da existência. Educação, assimilada por esse prisma, difere bastante do modelo vigente nas escolas formais. É mais formativa, no sentido ético e estético. Não oferece apenas informações específicas e compartimentadas, com vistas à uma carreira profissional futura. Bem mais do que isso, prepara o jovem para assumir um papel integral e contextualizado. Preocupa-se, inclusive, com seu caráter. A coletividade depende dessa transmissão orgânica de saberes entre os mais velhos e os mais jovens. Nas palavras de Manoel Moura Tukano, presidente da Federeção Indígena pela Unificação e Paz Mundial (FIUPAM): "Miserável é aquele que quer ser mestre, sem nunca ter sido discípulo".